sexta-feira, 16 de maio de 2008

A lot of asses in the crowd


Tem uma jornalista, que escreve para os jornais O Tempo e Pampulha, aqui em Belo Horizonte, que me agrada muito. É a Bianca Alves, que faz uma crônica no caderno de veículos. Sabe daquelas pessoas com quem, automaticamente, você se identifica? Pois é. Com ela foi assim. Amor desde a primeira crônica.

Ela fala de um jeito livre, como quem conversa num boteco. Isso, sem perder a necessária correção que o jornalismo exige. Sem grandes ares, sem pretensões exageradas, ela dá muito bem o recado para quem gosta do assunto “carro”. E pra quem não está nem aí, também.

Esse é o maior barato da Bianca. Ela comenta o assunto como quem adora, mas entende tanto quanto qualquer motorista mediano. Brasileiro é assim. Tem paixões que não entende muito bem. Aí, entre uma conversa e outra, ela vai dando o recado. Ela compartilha as mesmas ansiedades do motorista. Faz isso sem filosofar na empadinha, como quem sabe muito bem que não conhece todas as verdades. É muito bom ler as crônicas da Bianca.

Dia destes a Bianca estava falando sobre a mesmice com a qual andam os carros pelas ruas. Quando a pessoa fala de coisas comuns, de maneira simples, acaba atingindo o consciente coletivo.

Há algum tempo eu venho reparando nisso. A grande maioria dos proprietários procura cores discretas, que não provocam a atenção. Preto e prata é o que mais se vê.

One more ass in the crowd, dizia a frase em uma casmiseta que vi há muitos anos na Praça 7. Putz! Naquele dia, senti um certo desconforto por me identificar com a frase. Na vida urbana é assim. Todo mundo é mais uma bunda na multidão. E o que é pior: a maioria deseja ser assim. Ser diferente, se destacar, pode ser arriscado. Grande parte prefere o preto e o prata. “É mais fácil vender depois”, justificam.

Em 1972 meu pai teve uma Variant vermelha. Dois anos depois, o carro da minha mãe era um Chevette, também vermelho. Em 1979 minha irmã ganhou um Fiat 147, amarelinho, amarelinho. Anos mais tarde sofri um acidente com o Fitinho, que deu PT. Com o dinheiro do seguro, meu irmão comprou outro 147. 1.300, Rallie, com frente europa. Vermelho! Em 1993 minha mãe teve um Uno. Vermelho! E nesse tempo todo, eu aqui e ali, filando o carro de todos.

É verdade que lá em casa também já teve Vemaguete cinza, Caravan bege, Chevette bege e Gol de um azul metálico bem na dele. Eu mesmo tive um Golzinho BX de cor esquisita, indefinida, que ficava entre um verde, um azul, um cinza e um burro fugido. Mas, o que o povo gosta mesmo é do amarelo, do vermelho ferrari. Gente mais ousada manda até um laranja. Mas, ir até aí eu não me arrisco.

Houve tempo no qual as cores eram muito bem vindas nas ruas. Opalões azuis, Mavericks verdes, Caravans vermelhas, Passats vinhos e outras beldades coloridas eram vistas com mais facilidade andando por aí.

Quando em 1908 Henry Ford lançou o Ford T, inaugurando a produção em série de automóveis, teria proferido a célebre frase: “o cliente pode ter o carro da cor que quiser, desde que seja preto”. O preto então homogeneizou as carrocerias dos veículos por muitas décadas. Um ou outro fabricante topava ousar e lançar alguma coisa diferente. Depois da 2ª Guerra as coisas mudaram um bocado e as cores começaram a chegar às ruas. Hoje em dia parece que todo mundo está pensando de novo igual ao velho Forde e a idéia de que o carro deve ser discreto, de cor insignificante, dá a tônica.

Hoje eu estava descendo para trabalhar, a pé, como convém a quem vive em uma cidade na qual o trânsito é uma merda, e como pode, quem mora relativamente próximo do local de trabalho, e como tem quem que ser, que está sem carro próprio, e notei esse comportamento blasé. Tudo muito igual, tudo muito da mesma cor.

A lot of asses in the crowd.

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