quinta-feira, 26 de junho de 2008

Assim continua caminhando a humanidade

Há algum tempo abandonei a juventude. Isto quer dizer que abandonei, junto, a busca pela felicidade. Esta busca é coisa própria do jovem, ou daquele que não sabe envelhecer.
Não fiz isso por escolha própria, ou por despeito. Fiz por condição inerente à condição da vida.
Ainda tento preservar um gosto da juventude, mesmo sob os cabelos que insistem em ficar brancos e sob a pele que começa a perder o viço.
Esta é a graça da maturidade, que ao mesmo tempo, é a merda da maturidade. O sujeito conclui, peremptoriamente, que a felicidade é algo que não existe. Por outro lado, conclui que pode ser feliz, vivendo.
Enquanto somos jovens tentamos esta possibilidade da felicidade fortuita entre vários conceitos. Quando abandonamos a juventude, percebemos que, de fato, a felicidade graciosa habita o Pólo Norte, ao lado do Papai Noel. Talvez seja esta a mais tardia das ilusões que abandonamos, no processo de iluminação.
Obviamente, os mais habilitados aos julgamentos filosóficos, por força da função mental e intelectual, se entregam a estes fatos antes deles se concluírem, no processo natural da descoberta. Já vi alguns destes se tornarem amargurados, por tanto.
Contudo, na normalidade, que permite que o gosto engordurado da realidade não fulmine os fígados mais sensíveis, creio que o abandono da felicidade ilusória começa a se processar quando o sujeito percebe que vive cercado de hipocrisia, sob uma série de condições nas quais, em momento algum, no próprio processo de desenvolvimento pessoal, no plano físico, mental e espiritual, a ele foi dada a oportunidade de opinar.
O universo feliz, rosa, ou azul claro, com tonalidades tais que a educação permite, habita, num primeiro instante infantil, nas realizações dos heróis, que vão se implantar na nossa capacidade de discernimento entre o certo e o errado, como a máxima condição de ação.
Mais tarde, a moda, na adolescência, vai moldar os ideais de aparência, que se desenvolvem na rebeldia natural dos grupos que se organizam e idealizam comportamentos.
Depois, um beco escuro, iluminado por janelas opacas, se estende. Repleto de conceitos infantis e adolescentes, o sujeito se depara com o mundo hipócrita, e, portanto, verdadeiro.
Este sujeito custa um outro tanto para poder se aperceber da realidade nova e factual que a ele se abre, sem direito de protesto, por todos os lados.
Boa ou ruim, a realidade se revela, sem pedir desculpas ou licenças.
Quando se apercebe disto, de maneira pura e realista, o sujeito encontra o Nirvana mais distante de si do que há o calor de Copacabana sobre o frio da Sibéria.
Mas é aí que começa uma outra e boa história.
Não há de se ter felicidade. Há de se ter compreensão. O estado da felicidade talvez se confirme na realidade da luta e da compreensão das dificuldades, da dor, do apelo do corpo que caminha para o próprio termo.
Mas, de modo clássico, a isto não poderíamos chamar “felicidade”. A felicidade esta associada às uvas que comeríamos nos céus de todas as culturas. Coitados daqueles quem não gostam de uvas.
Neste instante, o da compreensão, o sujeito abandona o conceito de felicidade, por um outro muito mais pleno, na condição que a ele é dada, para quem não pode ter a alternativa das pujanças da juventude. É o termo do entendimento sobre como, de maneira hipócrita, se processa a existência humana e o entedimento sobre como, diante desta maneira, deve o homem sobreviver limpo e lícito.
Então, como desculpa para viver a plenitude daquilo que já perdeu, o sujeito humano começa a se satisfazer com o entendimento de tudo aquilo que conheceu. Neste tempo do entendimento, tenta ainda aproveitar os ares jovens que se perdem, coadunando-os com a velhice que se anuncia.
É assim que caminha a humanidade.

Um comentário:

Wander Veroni Maia disse...

Oi, Casal!

Passei aqui pra dizer que gostei do comentário que fez no meu blog. A idéia é justamente essa: abrir reflexões, pois cada um sabe um pouquinho de alguma coisa. Juntos, a sabedoria poderá ser compartilhada e discutida.

Agora, vamos partir para o comentário do seu texto...hehehe...

A questão de se buscar a felicidade em alguma coisa é utópica. Às vezes, achamos que a felicidade está num emprego, num relacionamento, qdo que, se pararmos pra ver, os momentos felizes estão diante de nosso nariz. Claro que é difícil aceitar algumas adversidades da vida. Por isso achei fantástico qdo vc disse compreensão. Aceitar as coisas da vida e ter força e sabedoria para mudar qdo for necessário mudar.

Bacana d+ esse texto!

Abcs,

=]
______________________________
http://cafecomnoticias.blogspot.com