sábado, 21 de junho de 2008

Ah! Que saudade da Islândia...


Todo Caxambau que se preza é um chato por natureza. Afinal, ser do contra não é atitude das mais apreciadas em sociedade. Como assumi esta agradável tarefa, resolvi ser o mais chato possível. O mínimo com as pessoas do meu convívio, às quais dedico o máximo do meu amor, à maioria. Tenho tentado poupa-las da minha chatura ululante. Em contrapartida, para aliviar o meu potencial, resolvi ser o mais chato possível com as prestadoras de serviços que insistem em pisar nos meus frágeis calos consumidores e cidadãos.

Portanto, e para tanto, estou usando, também ao máximo, na medida do meu tempo livre, os meus direitos de cidadania. Quem tem sofrido com isso são os atendentes que, pelo telefone, formam a barreira entre o cliente e as empresas que fornecem serviços.
Por exemplo, vai aí uma querela que abri contra a Vivo.

Acho que há mais ou menos 12 anos, logo quando a telefonia celular veio nos perturbar e nos favorecer aqui em Minas, sou cliente da vendida Telemig Celular. Há oito anos, quase exatos, com a mesma linha. Nunca fui um usuário contumaz da telefonia móvel, uma vez que minha função econômica não exige tanto e minhas relações pessoais são muito mais feitas tête-à-tête do que por meio de qualquer aparato tecnológico.
Porém, humanos e bobos que somos, a gente acaba se rendendo a estes artifícios cômodos e curiosos.

Tentando colocar moral neste meio tecnológico da telefonia celular, há mais ou menos uns tempos a Anatel disse que todos os telefones celulares deveriam ser desbloqueados, podendo, assim, receber o serviço de qualquer operadora do ramo. Há mais ou menos uns meses a Telemig Celular, filha da saudosa Telefônica de Minas Gerais, a Telemig, que por sua vez era filha da Companhia Telefônica de Minas Gerais, a CTMG, e que virou Telemar, que hoje tem o apelido de Oi, virou Vivo.

Há um mês resolvi trocar meu aparelho por um mais modernoso, cheio daquelas firulas que nunca vou usar, mais que é muito mais bacanudo do que o antigo. O bicho tira fotos e filma com qualidade muito boa e faz outras gracinhas. Comprei o danado já desbloqueado, em uma bagatela de promoção quatro mil e quinhentas parcelas, oportunidade que me foi oferecida porque acumulei sei lá quantos pontos e sou cliente diamante. Sei lá por que! Como também não sei o que isso significa.

Acontece que meu outro aparelho, que já tirava umas fotos, mesmo mais ou menos, e filmava pessimamente, mas tinha um tamanho assim, e deslizava o painel assado, é bloqueado por aquela Telemig Celular, que já não existe mais, que virou Vivo...
É aí que enseja o meu exercício quase islandês.

Ao invés de seguir o conselho de amigos que dizem “ você fica aí, perdendo tempo com bobagem” e ir a uma das centenas de oficinas que desbloqueiam qualquer celular por qualquer merreca de vinte reais, ou buscar a solução na Internet, resolvi apelar para a operadora Vivo, buscando o meu direito de consumidor.

Isso ocorreu há uns 60 dias. De lá pra cá já recebi trocentas mil desculpas, eteceterocentas mil justificativas. E o aparelhinho, que desliza pra lá e pra cá, e tira foto meia boca, continua bloqueado. A Vivo diz que o problema é do fabricante. O fabricante diz que o problema é da Vivo. Como sou cliente da Vivo, e não do fabricante, aqui não vou ficar fazendo propaganda pró ou contra ao tal. Seria bobagem.

Pois bem, pela enésima vez, me ligaram-me da Vivo, pedindo código emei, charpei, sansei e não sei. Pela trocentésima vez, passei todos os números que eles queriam. E o telefoninho continua bloqueado.

Ligo quase diariamente para a operadora, reclamando do problema. Já registrei reclamação na Anatel. Já expressei minha indignação com todos os e as atendentes que me ouviram, inclusive com os e as que não me quiseram ouvir. Às vezes me exacerbo e não sou agradável. Só não falo palavrões, uma vez que ninguém merece desrespeito. Mas, não poupo ironia, indignação e energia.

O pessoal de lá já deve ter o meu número colado no monitor e deve se arrepiar quando tem a má sorte de me receber na linha.

De acordo com a operadora o fabricante não reconhece os códigos nissei, nonssei ou emei do meu aparelho. De acordo com o fabricante, eles não têm nada com isso. Uma, a operadora, empurra pro outro, o fabricante, que empurra pra outra, a operadora. Enquanto isso, eu, islandês chato, vou ficando no pé da Vivo, com quem falo por meio dos ouvidos dos pobres coitados dos atendentes, que, nesta altura, já me detestam.

Já me recomendaram: “para com isso Carlos...paga ali, vinte contos e desbloqueia essa merda!”. Mas, o meu interesse não é desbloquear. É reclamar sobre o que deve ser reclamado.
Direito é direito. Ponto. O valor econômico que isso implica não é nada. O que é tudo é o valor moral, ético e cidadão. Se existe uma determinação legal, todos devem cumpri-la. Isto é o que potencializa a organização de um estado digno. O que forma a base deste estado não são as empresas ou as organizações públicas. Somos nós, cidadãos. Se nós, que somos base, não somos respeitados nos nossos mínimos direitos, que merda poderá ser este estado que ainda estamos construindo?

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